A vida adulta tende a matar a beleza de detalhes do cotidiano, tende a escurecer pouco a pouco o universo colorido que a infância tanto zela e ainda entristecer corações através da tamanha transparência com que o mundo é apresentado aos grandões da atualidade.
A criança vê a borboleta, toda linda, colorida, dando piruetas no ar e corre atrás dela. Corre e sorri, achando incrivemente bonito poder ter asas e ser daquele jeitinho, tão leve e tão aparentemente feliz.
Já o adulto vê na borboleta apenas uma borboleta. Olha seus movimentos com olhos já tão carregados que não vê nada além de um inseto comum.
A criança vê uma flor, a dama-da-noite e fica intrigado ao perceber o perfume que só se percebe a noite. Uma florzinha tão clara que (des)escurece a noite através de uma cheiro muito bom! É a magia da vida, da natureza...e a criança, com certeza, pensa sobre a mágica de Deus por dias.
O adulto, já tão cheio de afazazeres, pode nem perceber o perfume ao passar perto da dama-da-noite. E se questionado pela criança sobre o perfume, interiormente vai usar da correria do cotidiano como desculpa pelo fato de não ter notado o cheirinho da flor.
A criança descobre o mundo a cada dia. Pássaros novos, cheiros, cores...a vida é uma novidade constante! O gato que detesta água e toma seu banho através de suas lambidas. A formiga que é tão pequena mas consegue carregar folhas enormes nas costas. O sol que vai embora para que a lua possa brilhar. O avião no céu. Os pássaros que voam todos juntos quando percebem que vai chover. O arco-íris – que possivelmente guarda um pote de ouro no fim –. Tudo é novo, bonito e emocionante.
O adulto já nem percebe mais nada além do que ele deve fazer, e fica até irritado quando questionado sobre alguma descoberta infantil. São contas, e compras, trabalho, metas que devem ser atingidas, dor de cabeça e o chato do passarinho que não para de cantar na janela pela manhã. Já não vê nem a cor do paassarinho cantor, nem a cor do céu quando o sol vai embora e tampouco nota as formigas no chão – elas são pisoteadas antes mesmo de serem notadas –.
Quando se é criança o pensamento sobre a vida adulta é tão leve: " Vou me casar e ter 3 filhos. Quando eu crescer quero ser bombeiro." Papai e mamãe são heróis e perfeitos. Trabalhar nem parece essencial. As pessoas não têm problemas, nem doenças e nem ficam tristes. A vida adulta ainda leva cor!
O adulto lembra da infância e sente saudade, lamenta... lembra de como era bom soltar pipa e brincar de pique-esconde ou brincar na chuva e de como era bom sentir os pingos caindo. Lembra com carinho o gosto de bolinho de chuva da vovó, e do bolo de cenoura com cobertura de chocolate que tinham um gosto tão diferente dos que se faz hoje – " Quando eu era criança isso era mais gostoso!". Mas o que é mais doloroso é não saber como fazer para sentir de novo, para sorrir como antes, para notar coisas como antes...ser capaz de achar a antiga criança, por alguns minutos do dia, dentro de si.
A criança sonha com a vida adulta. O adulto quer voltar a ser criança!
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